sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Portas que falam


     Você conhece Tonny? Ou Luana e Amanda? Pois saiba que você se depara com essas figuras diariamente. Eles são alguns dos muitos que deixam assinaturas nas portas dos banheiros do campus Benfica da Universidade Federal do Ceará (UFC). Não é raro ir a esses locais e encontrar poesias, declarações de amor, mensagens eróticas, discussões religiosas, além de discursos políticos.

Banheiro feminino: elas respondem mesmo ao que as outras escrevem | Foto: João Marcelo Sena
  No entanto, essa forma de expressão tem um custo para a Universidade. Segundo Eliete Pereira (46), supervisora de manutenção da prefeitura do campus, a UFC gasta cerca de R$20 mil por mês em restaurações gerais apenas no Benfica. “Não acho isso correto porque nós temos todo um trabalho que envolve despesa com material e mão de obra dos funcionários, além do transtorno de ter que chegar para apagar essa pichações.”

Marta Vieira (39), auxiliar de serviços gerais, reclama da falta de educação dos usuários dos banheiros da Universidade e diz que esse tipo de atitude não está restrita aos alunos, revelando que professores também depredam os equipamentos. “Acho isso terrível. As pessoas não têm o mínimo de cuidado. É difícil crer que são tão mal-educadas”, protesta Marta. 

“Acho que deveriam ser colocados cartazes orientando para que as pessoas não sujem ou pichem os banheiros”, sugere a auxiliar de serviços gerais. Eliete compartilha da opinião de Marta e acha que a solução para o problema está na implementação de campanhas educativas. “Essa atribuição não deve ser só da prefeitura”, alerta. “A responsabilidade é de todos. Departamentos do Centro de Humanidades, diretórios acadêmicos, coordenações... Vamos manter o campus mais limpo”, complementa.

Arte ou pichação?

No local utilizado para necessidades fisiológicas ou para alimentar a vaidade diante do espelho, a criatividade pode surgir inesperadamente e das maneiras mais inusitadas. “Ele passou e olhou pra mim”, “Não existe pecadinho nem pecadão”, dentre outras inscrições, algumas impublicáveis, são comuns nas portas dos banheiros.
Banheiro masculino: do sexo ao ativismo político | Foto: Bruna  Luyza
As expressões de cunho sexual são as mais presentes. A partir delas, outras discussões surgem, envolvendo religião e até mesmo homofobia e preconceito. Os diálogos se desenvolvem  enquanto existir espaço limpo na madeira. Para a estudante de Letras Aline Carvalho (20), essas atitudes retratam uma “falta do que fazer”.  “As pessoas na faculdade poderiam ser mais maduras, mas acabam perdendo tempo com besteira”, argumenta.


Vídeo: Depoimento de Aline Carvalho. Cinegrafia e edição: Fá Babini

  As portas de banheiros públicos são mais um local encontrado pelo ser humano para se expressar, assim como os muros espalhados pela cidade. Desejos reprimidos são aflorados, protestos silenciados são divulgados. É um espaço livre de censura, pelo menos até a próxima mão de tinta.

 

TAGS: BANHEIROS | UFC | BENFICA

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Bruna Luyza
João Marcelo Sena
Fá Babini

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