domingo, 13 de novembro de 2011

Ofícios curiosos - Bastidores 1: Dragões da Independência

Por Nina Ribeiro

O contato com soldados Dragões da Independência que guardam autoridades políticas do executivo em Brasília foi uma experiência - não seria diferente - bastante curiosa. Afinal, o que pode haver de mais curioso em se querer entrevistar um profissional quando ele não pode falar em serviço? Outros trocariam o adjetivo por “trágico” ou “cômico”. Vou manter o “curioso”, por enquanto.

Tudo começou com minha ida à capital federal, Brasília, por conta de um evento de família. Sabendo da distinta função dos Dragões na cidade, resolvi aproveitar a oportunidade para ir à campo em busca de informações. Decidi ir à residência da presidenta Dilma Roussef, o Palácio da Alvorada, no dia 15 de outubro, para tentar conversar com um desses soldados facilmente reconhecidos por suas fardas históricas que remetem ao brado de Independência do Brasil.

Apesar de estar em família quando chegamos - meu avô e esposa conheciam a cidade pela primeira vez, além da companhia de minha tia e da esposa de meu pai -, tentei não me distrair tanto e fui logo à procura do Dragão em posto, que estava numa área protegida de sol e chuva, próxima a um dos portões de entrada e saída de veículos.

Um outro soldado fardado à maneira comum (cor verde musgo para calça, camisa marrom e botas pretas) mantinha-se um pouco ao lado e numa posição externa à área delimitada com cordas para o Dragão da Independência. “Ele deve ser o ‘segurança do segurança’”, pensei, de cara. Parecia um coadjuvante, já que o Dragão, em sua farda e postura, era o centro de qualquer atenção para os visitantes que surgiam a todo momento - aliás, eu já estava me assustando com a quantidade de turistas que aparecia assim, do nada, pra tirar foto ao lado do imóvel Dragão e fazer gracejos, com o avançar do tempo.




Turistas posam para foto com o Dragão da Independência
Foto: Valdir Matos


Descobri, enquanto entrevistava o militar Abraão, que ele era, na verdade, “Relações Públicas”. Assim, ao chegar em casa, sabendo que cada Dragão que guarda a bandeira nacional em frente ao Palácio da Alvorada recebe um “RP”, veio a dúvida: “Como escrever sobre essa profissão, a partir do depoimento de uma pessoa que não executa o que está em pauta?”.


O soldado RP existe naquele espaço para falar pelo Dragão. Isso porque, para os que não sabem - como eu também não sabia -, um dos mandamentos para os Dragões da Independência que ocupam esse posto é não poder falar com as pessoas, permanecer parado feito estátua por duas horas seguidas.



Soldado Abraão (Relações Públicas) fala sobre a função dos Dragões
Foto: Valdir Matos

A apuração foi bastante inquisidora, partindo desse aspecto aparentemente “impeditivo”. Não pelo durante - entrevista com o RP -, mas pelo depois, uma vez tendo percebido como, às vezes, o que se propõe dedutivamente antes da apuração passa por uma reviravolta repentina à medida que se consulta fontes, e aí tem-se de repensar as abordagens e os próprios rituais embutidos na profissão de repórter - confesso, não me informei sobre esse detalhe e saí de casa jurando que falaria com o Dragão em pessoa que estivesse presente.

Isso acabou refletindo no momento de pensar a redação do texto final, mesmo que essa etapa ainda fosse demorar para vir. A todo momento eu me perguntava, antes de chegar em Fortaleza, sobre a legitimidade, a profundidade, e até a fidelidade das palavras ditas pelo soldado RP. Se elas eram o que o Dragão dentro daquele cercado diria se pudesse fazê-lo, durante o ofício, ou mesmo fora dele. Mas, vai ver, a existência de um RP só torna a profissão mais curiosa ainda. Ou tudo mude, se eu disser que esse mesmo RP já foi um dia Dragão da Independência... Veremos.

3 comentários:

Juscelino disse...

Deve ser um trabalho de *****, mesmo. Só pode. Porque, convenhamos, ficar parado por duas horas, direto, sem poder dar um piu, nem falar com ninguém... e ainda ser 'representado' por outro cara? Nã... Piada besta à parte, mas que esses Dragões precisam de mais 'independência', ah, precisam. :P

Ótimo escrito, Nina! :D

Naia disse...

Nina, adorei sua reflexão sobre a prática da profissão diante do inusitado. E, mesmo assim, não perdeu a pauta. Isso é exercício jornalístico. Claro q se o "Dragão" pudesse falar, seria melhor, mas talvez o mote dessa matéria seja seu próprio olhar, o silêncio, a curiosidade. Pense nisso, antes de escrever o texto final. Parabéns!!!

Anônimo disse...

se o dragão pudesse falar ...
ia reclamar muito , pois o salário é orrivel , mas tudo bem o palácio da alvorada é uma mãe para o dragão , porque aquela rampa do planalto é das trevas voces não tão entendendo , eles deveriam colocar dois capacetes dragão em dois cachorros e botar lá em cima aquela rampa não é pra gente não !