"Se meus gostos e meu humor variam e estou sempre vivenciando coisas diferentes, porque eu deveria sempre me vestir igual?"
Vivienne Westwood, estilista famosíssima e responsável pelo grande boom
da moda punk disse que era nos vestindo que dizíamos ao mundo quem éramos.
Claro que não vamos numa loja e escolhemos as roupas pensando “Hum, o que eu
posso dizer ao mundo sobre mim se usar essa camiseta branca com um bolso
lateral?”. Mas a verdade é que, obviamente, Vivienne tem razão. A personalidade
transborda no jeito de vestir de cada um, mesmo involuntariamente.
Até a mais básica das pessoas comunica através das roupas. Com sua
praticidade e falta de adornos ela afirma “gosto de simplicidade”, “prefiro
conforto à suposta beleza” ou até “não gosto de acompanhar a moda, acho
‘frescura’”. Roupas, acessórios, até mesmo a cor do esmalte servem para mostrar
um aspecto da personalidade, um estado de espírito, uma preferência.
Como falamos na reportagem,é justamente essa forma de
se expressar através da moda que passou por algumas mudanças. Continuamos
transmitindo nossas identidades(?), mas temos cada vez mais liberdade para
misturar vários estilos no mesmo look, até na mesma peça. E por que não?
Não possuímos uma única
característica, não nos sentimos da mesma forma todos os dias, nem passamos
pelas mesmas experiências. Se nossa personalidade é composta por uma multidão
de fatores, se meus gostos e meu humor variam e estou sempre vivenciando coisas
diferentes, porque eu deveria sempre me vestir igual? Por isso faz tanto
sentido essa convergência de estilos.
Saí para fazer as entrevistas vestindo uma simples calça jeans e uma
blusa branca, mas nos pés coloquei a peça mais polêmica que tenho no meu
guarda-roupa – e olha que nem foi de propósito. Trata-se de um tênis meia-bota
roxo com spikes e um pequeno salto embutido. E quem o vê o ama ou o odeia
fervorosamente.
O exemplar do Snicker roxo | Foto: Raissa Sampaio |
Meu namorado disse que é a coisa mais feia que ele já viu alguém
conhecido usando. Meu pai perguntou se era “coisa de Restart” e minha mãe
prontamente respondeu que ele não entendia nada de moda. A maioria das pessoas
olha o sapato com um misto de desconfiança e medo, mas sempre que entro em
alguma loja, o vendedor reconhece a marca do sapato, elogia e sabe que existia
uma lista de espera para esse modelo.
Alexa Chung, It Girl, apresentadora e queridinha do mundo da moda, disse
numa entrevista a Teen Vogue que uma vez foi a um evento usando como bolsa uma
cesta que ela pegou do cenário do programa dela. Por já ter respaldo nesse
meio, Alexa pode se dar a esse, digamos, luxo. Mas e se nós fossemos a uma
festa usando uma cesta como bolsa? Seríamos chamadas, no mínimo, de loucas. Só
para ilustrar o quanto a moda divide opiniões.
Acho que deve existir um filtro. Ninguém deve usar aquilo só porque está
na capa da revista ou porque a Kate Moss saiu assim no sábado passado. Claro
que as tendências estão ali para serem acompanhadas, só temos que usá-las a
nosso favor. Experimentar, ver o que valoriza mais o nosso corpo e o que
combina mais com a gente.
E é tão gostoso quando a gente descobre as coisas que combinam com a
gente. Nos sentimos diferentes, confortáveis, muito mais bonitas, mais
estilosas. Parece que finalmente o lado de fora está “combinando” com o lado de
dentro.
Raissa Sales Sampaio
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