Por Larissa Sousa
Bem, o que falar da reportagem de acessibilidade? Com certeza a maior lição dessa ida a campo foi me fez crescer pessoalmente. Acho que não só para mim quanto também para a Jully e a Fernanda. Pudemos vivenciar, mesmo que momentaneamente, as dificuldades e algumas vontades dos deficientes visuais. Sem cair no clichê de “eles são como nós”, os cegos (termo politicamente correto para você que tem receio de falar) enxergam mais do que muita gente por aí com olhos “perfeitos”.
Quando você conversa com uma pessoa e descobre um pouco mais do mundo dela, você começa a perceber o quanto a sua mente é pequena e ignorante. Entrevistar a aluna Rebeca Barroso foi inesquecível. Uma menina cega de 22 anos, cursando Letras e bolsista do projeto UFC Inclui, que leva uma vida normal sem reclamar da rotina. Aliás, durante a entrevista, ela sempre nos lembrava que tinha aula às 14 horas e não poderia se atrasar.
Rebeca utilizando o programa Dosvox. (Foto: Larissa Sousa) |
O senhor Hortêncio Pessoa, de 70 anos, foi outra personagem hilária e que me arrancou muitas gargalhadas. Extrovertido e poeta, Hortêncio escreve poemas e prosas sobre a vida. Tamanha é a sua disposição pelos cursos (locomoção, locução) que faz, que segundo ele, se soubesse que iria beneficiar tanto a sua vida, ele “teria ficado cego há mais tempo” (risos).
Na secretaria de acessibilidade da UFC, o clima é tão gostoso e acolhedor entre bolsistas e participantes do projeto, que fica quase impossível sair de lá sem pelo menos refletir sobre o que faz aquelas pessoas, mesmo sem a visão, enfrentarem qualquer tipo de obstáculo. Confesso que durante as entrevistas, muitos foram os momentos em que me desligava das respostas e me colocava no lugar daquelas pessoas.
Ao sair da sala fui surpreendia pelo escritor Hortêncio: “Larissa, adorei a entrevista, você é um docinho de coco, mas eu não enjoei de você”. Talvez a alegria seja a palavra de ordem naquele lugar, ou talvez seja a esperança. Só posso afirmar que comecei a ver o mundo com outros olhos. Com os olhos de um cego.
Um comentário:
Larissa,
Faço ideia da emoção e reflexão que a matéria despertou em vc e no restante do grupo. E fiquei mais feliz qdo vc menciona que se colocou no lugar dos cegos, essa atitude, mais que jornalística, é humana, é o respeito com a alteridade e isso, com certeza, fará de vc e das suas colegas, profissionais bem mais sensíveis e com um olhar que vai para além do visível.
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