sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Adeus, Castelinho


O último suspiro de uma das mais tradicionais sorveterias do Benfica

Tradicional no bairro Benfica desde 1987, a sorveteria Castelinho costumava ser um lugar para fugir do calor e aliviar a sede com sorvetes de diversos sabores. Mas para quem ainda é acostumado a frequentar o local e a vê-lo na paisagem urbana do bairro, uma má notícia: a Castelinho vai encerrar seus serviços e dar lugar a uma franquia de shakes de São Paulo.

A competição com o shopping e com a violência presente no bairro, as sorveterias acabaram se desgastando.“Aqui tá terrível. O fator maior que afastou as pessoas foi a violência”, diz Euclides Neto, que acompanha a família dos donos desde que a sorveteria foi inaugurada. Ele conta ainda que o local já foi assaltado três vezes.

O sorvete "castelinho" é um dos preferidos dos clientes
Foto: Taís de Andrade
Durante dez anos, a Castelinho fez parte de uma sociedade entre dois irmãos. Quando a sociedade acabou, as partes foram separadas, surgiu o outro estabelecimento, que manteve o nome e se localiza mais adiante, ainda na Avenida Treze de Maio. Mas o local também sofre com a violência.

Alessandra dos Santos, que trabalha há dois anos na sorveteria, relatou episódios de arrastões, especialmente em dias de jogo entre torcidas rivais, no estádio Presidente Vargas. De acordo com ela, isso afasta os clientes: “ultimamente, não está bem movimentado, não”, afirma. A Praça da Gentilândia, que, de acordo com Euclides Neto, era cheia de estudantes das universidades do entorno, agora é palco para violência e consumo de drogas.

História construída em Fortaleza

A história da Castelinho é mesclada com as das sorveterias mais antigas da cidade.  “Todo mundo que mexeu com sorvete aqui em Fortaleza é de Santana do Acaraú”, afirma Euclides Neto. Ele conta que os donos da Castelinho e de outras sorveterias, como a Juarez, Casa do Sorvete e 50 sabores, são todos conhecidos do interior.

Surgidas em uma época em que o crescimento urbano, a violência e o trânsito não eram tão intensos, as sorveterias tinham uma clientela fiel. “Tinha freguês que morava no Antônio Bezerra, tinha um senhor que vinha de Messejana pra tomar sorvete aqui”, relembra Euclides.


A despedida da Castelinho


Os 60 sabores que encantaram os clientes
Foto: Mikaela Brasil

A sorveteria que fez parte da infância e das memórias de tantas pessoas vai deixar saudade.  A consumidora Ceila Nunes frequentava o local há dez anos e conta que já deixou de tomar sorvete no Shopping Iguatemi para ir na Castelinho. “A qualidade estava na simplicidade e no produto, porque você não sentia produto químico, você sentia o gosto da fruta, era um produto novo”, explica.

Ceila também lembra quando estava com um amigo na sorveteria, e ele disse que gostaria que inventassem o sorvete de mexerica. “O atendente ficou olhando e disse ‘ passa amanhã’. No dia seguinte, ele chegou e tinha mostrando na tabela: ‘ Sorvete de Tangerina, vulgo Mexerica’.”  

A negociação da venda da sorveteria foi realizada nesta sexta (14) e é esperado que ela seja fechada após uma semana, para iniciar a reforma do novo empreendimento, prevista para ser concluída em um mês. A outra sorveteria Castelinho, contudo, não tem planos para venda.





Repórteres: Caroline Portiolli, Mikaela Brasil e Taís de Andrade

Fotos: Mikaela Brasil e Taís de Andrade











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