(Por: Rosana Reis)
Os personagens são cinco irmãos maranhenses migrando para o Ceará em meados da década de 90. O cenário é o bairro do Benfica - já dividido entre bucolismo e burburinho universitário –, às margens da desde sempre movimentada avenida Treze de Maio. E a saga é uma só: tentar construir a nova vida em comum na cidade de Fortaleza.
Dentre as tentativas de empreendedorismo alçadas por cada um
dos irmãos, a de Edson é, considero, a mais ousada: montar um bar no meio do
ambiente boêmio-residencial do Benfica.
Seria muito óbvio o estratagema comercial - dado os ares
universitários afeiçoados ao convívio etílico -, se não fossem as premissas um
tanto quanto contraditórias do recinto: um bar de família – sim, senhor! – onde
só se pode ouvir de Heavy Metal pra cima.
O horário de encerramento aqui é 22h, e ache bom se der sorte de conseguir ficar até às 23h. Casais homoafetivos demonstrando carinho? Favor, dirigir-se ao “Pitombeira” mais próximo, que o dono do Gaiola disse que é conservador e não “tolera essas coisas” não.
Todas as gerações se encontram nos bares do Benfica (Foto Taís Monteiro) |
O horário de encerramento aqui é 22h, e ache bom se der sorte de conseguir ficar até às 23h. Casais homoafetivos demonstrando carinho? Favor, dirigir-se ao “Pitombeira” mais próximo, que o dono do Gaiola disse que é conservador e não “tolera essas coisas” não.
“Aqui não toca
Beatles , que eu já passei dessa fase de ouvir música mais leve. Isso era só
durante a minha juventude”, pontua o então “Seu” Edson, enquanto conversamos
sentados às margens da janela gradeadas do seu, e muito seu, Gaiola Rock Bar (sim,
aquele mesmo onde nasceu a história das meninas).
Se você está sentindo falta de alguma letra é porque não bebeu o suficiente |
A janela ampla, com vista para o IFCE, não dá conta do calor
do ambiente e ele, gentil e sempre interessado na conversa, liga um
ventiladorzinho pra amenizar a situação. Falando em interesse, confesso que no
início o entrevistado demonstrou bem mais ânimo do que eu. O que era pra ser um
mero mapeamento de bares, com perguntas sobre o preço do litrão da Skol e o horário
de funcionamento do recinto, virou um garimpo na vida do proprietário.
Tudo na Gaiola de Seu Edson tem um significado. As marcas
dos seus frequentadores mais assíduos se sentem por lá: nas paredes, através
das caricaturas dos clientes mais fiéis; no próprio nome do bar, batizado este
por alunos do IFCE, que disseram que o lugar mais parecia uma “gaiola”, com
aquela grade imensa na janela; na agenda telefônica do proprietário, que chega
a ligar para os mais chegados pra perguntar por que não apareceram pra tomar
uma.
Então, a coisa que mais me dá brilho nos olhos pelo tal do
Jornalismo – essa profissão de muito romantismo e pouco pão – acontecia enquanto
ele desenlaçava detalhes pessoais em meio a perguntas despropositadas. Seu
Edson me mostrava aquilo que a gente apanha esquecendo no corre-corre das
redações linha-de-montagem : existem pessoas e histórias incríveis por trás do prosaico.
Que tipo de critérios de noticiabilidade são esses a que nos submetemos, que
dizem que só o extraordinário e o bizarro são manchete? O cotidiano das pessoas
também é incrível.
E assim é: em cada esquina do Benfica tem um bar (às vezes,
nem mesmo é necessário andar de uma ponta a outra do quarteirão para encontrá-los),
mas basta ter um pouco de sensibilidade pra perceber que cada um deles é
diferente. Públicos, estilos, histórias, tudo muda. E é exatamente essa miscelânea que dá
identidade ao “bairro mais charmoso” – palavras de Seu Edson! – de Fortaleza.
2 comentários:
Seu Edson lindo, gente. (: Não há dono de bar mais carinhoso e atencioso. E lá se encontra os melhores cds de rock, as melhores coletâneas, e as melhores conversas com esse homem maravilhoso. (:
Rosana,
Seu texto ficou ótimo!! É assim mesmo, nos envolvemos com os personagens e conseguimos, por meio de palavras ou imagens, dar certa magia ao cotidiano de pessoas que, aparentemente, não são extraordinárias. Parabéns pelas belas palavras e sensibilidade.
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