segunda-feira, 11 de junho de 2012

Sensibilidade em cores e inveja de octópodes

Por Thamires Oliveira

Cada um tem sua maneira de exorcizar os males, mas há de se convir que a arte é a ferramenta universalmente conhecida por resolver esse problema. Quando se tem oportunidade de conhecer outras pessoas que transformaram em trabalho o exercício de libertar a própria subjetividade, o que resta é mergulhar nessa arte e aproveitar a troca de experiências. 


As intervenções artísticas em espaços públicos despertaram a nossa atenção para o próprio cenário ao redor. A gente olha pros lados e, em consequência disso, acaba voltando os olhos pra dentro de nós. Estamos acostumados até demais ao ríspido concreto e à frieza dos tons de cinza que pintam as nossas paredes.

Ateliê do Selo Coletivo

Não há como evitar o choque ao andar apressadamente pela rua e se deparar com uma frase de saudade, de amor, de questionamento sobre a vida, de evocação de lembranças, de crítica social. Qualquer coisa que traga um pouco de sentimento pra duelar com a pressa e os afazeres cotidianos significa um baque na nossa rotina metódica e asséptica.

Sentir, para alguns, não é suficiente. É preciso externar o sentimento e chamar atenção para o que se passa na cabeça de um artista que resolve imprimir sua personalidade em um muro. Nosso trabalho como jornalistas permitiu a aproximação com propostas estéticas que passariam longe do que imaginaríamos ao passar por um muro pintado. “Ah, um trabalho qualquer, um desenho que não entendo”, é o pensamento de gente apressada. Visitar o ateliê do Selo Coletivo e ter a oportunidade de participar de uma roda de conversa sobre o trabalho dos Aparecidos Políticos ajudou a clarear a opinião meio nebulosa que nós tínhamos sobre essa arte. 


Mais um trabalho exposto no ateliê

Obviamente, as dificuldades foram muitas. Quando se tem duas repórteres para duas reportagens, a hora do “cada um por si” acaba chegando. Uma divisão certinha de tarefas e uma estratégia de comunicação e pitacos mútuos instantâneos precisou ser criada para que pudéssemos correr atrás das fontes (talvez até literalmente, se considerarmos uma entrevista surpresa com a fonte que, por um milagre divino, apareceu no prédio do nosso curso) e cumprir o deadline apertadíssimo.

O resto foi puro malabarismo, principalmente quando os horários disponíveis das repórteres não batiam. Quando o apoio moral por telefone e aquela ajudinha na logística era o que estava ao alcance da colega de pauta, o jeito era confiar no instinto jornalístico e trabalhar. Infelizmente, nossa anatomia ainda não permite que a gente possa anotar pontos importantes de uma entrevista no famigerado bloquinho, segurar um gravador de áudio, fazer a pergunta certa na hora certa, filmar e fotografar ao mesmo tempo. Tivemos inveja dos polvos, queríamos ser octópodes. Mas tínhamos que dar um jeito, chamar alguém pra segurar a câmera, pedir ajuda a quem tivesse perto. Não viramos um polvo, mas deu certo. Equipamentos à parte, aproveitamos para dar um viva aos celulares que apareceram para gravações improvisadas e aos amigos que toparam nosso apelo de “filmaquiessintrevistapufavô”. 


Tintas, sprays, cartazes: material utilizado por vários grupos de intervenção no ateliê 

O que ficou de tudo – além da vontade permanente de ser um polvo – foi a experiência de olhar diferente para um lugar que víamos todos os dias, uma mensagem cujo significado nunca prestamos a devida atenção. Nunca mais passaremos por um muro ilustrado do mesmo jeito.

Um comentário:

Naia disse...

Mto bom, Thamires, jornalista brinca de polvo, de malabarista e, no fim, tudo dá certo (na maioria das vezes). Parabéns pelo texto, muito bom. Essa prévia já me mostrou que vem muita coisa boa por aí, de toda a turma, claro!