domingo, 7 de novembro de 2010

O desafio de falar sobre a arte dos muros

Com intervenção urbana definida como a temática da equipe, eu e a Camila Torres tínhamos um desafio: falar sobre o cenário atual do graffiti em Fortaleza.

Entrar em uma área que não dominamos não é fácil. Ainda mais quando é preciso conhecer um pouco sobre as gírias do grupo e sobre os trabalhos desenvolvidos. Porém, eu e a Camila não sentimos dificuldade. Os entrevistados deixaram a conversa fluir, tirando todas as nossas dúvidas. Foi um trabalho bem interessante, mas o começo não foi tão simples.

Inicialmente, nossa equipe se dividiu e ficamos com dois tópicos: o cenário atual do graffiti em Fortaleza e os perfis das crews (grupos de graffiti). Tivemos a pauta inicial derrubada por conta da indisponibilidade de uma entrevistada. Desanimei. Parecia que as ideias não iam surgir. O assunto é muito abrangente e redefinir o foco foi um pouco complicado, mas seguimos com outra proposta.

A primeira entrevista foi com o grupo Acidum, de intervenção urbana. Saímos da entrevista encantadas com o trabalho desenvolvido pelo grupo, particularmente pelo o quanto estudam e se preparam para desenvolver o que planejam. Já conhecia um pouco do trabalho deles e a conversa me fez admirar ainda mais a arte do grupo.

A entrevista teve uma condição que custamos entender: não poderíamos identificar na matéria os membros do grupo. A explicação foi simples, de que o trabalho artístico era o foco e que, em breve (em 2011, provavelmente), após os mais de três anos de grupo, os cinco membros pretendiam “aparecer”. “O trabalho que fazemos é do Acidum. Um desenha, o outro apaga e desenha por cima. Nós desenvolvemos esse desprendimento com o que fazemos”, afirmou o entrevistado.

Depois foi a vez de contatar os outros grupos. Decidimos seguir a ordem da lista disponibilizada pela Isabela, conseguida na entrevista com o Narcélio. O primeiro foi o Junim, do grupo RAM. Ao perceber a impossibilidade de reunir todos os membros em um só dia para a entrevista, por sugestão do próprio, fomos ao 4° Encontro de Graffiti de Fortaleza, no sábado 30 de outubro. Não consegui falar com os outros grupos da lista antes do encontro, mas sabíamos que no sábado íamos poder falar com muitos deles.

No sábado a tarde, eu e Camila partimos rumo ao desafio de encontrar um grande muro branco, da UFC, na avenida Mister Hull. Depois de algumas voltas e dificuldade em localizar um retorno na avenida (e a Camila dizendo: esse guardinha deve estar estranhando a gente passar tantas vezes por aqui), conseguimos estacionar muuuito longe. O muro da UFC é enooorme.

Chegando lá, observamos a concentração inicial e fomos conversar com os graffiteiros. Tubarão, presidente da Federação Cearense de Garffite, foi o primeiro entrevistado. Dele partimos para a entrevista das crews presentes no encontro. Diante da impossibilidade de entrevistar e fazer o perfil dos mais de 30 grupos, decidimos ficar com as que apresentavam características bem peculiares.

Encontramos uma realidade desconhecida por nós. Jovens que se reúnem para se expressar apenas por amor ao que fazem. Cada um com seu material, comprado com dinheiro do próprio bolso, para pintar uma Fortaleza mais viva, mais colorida e reflexiva. Uma Fortaleza que há apenas quatro anos enxerga o graffiti com “bons olhos”. Uma arte que tem apenas a pretensão de externar os sentimentos de uma juventude preocupada com a cidade onde vive.

Estamos aguardando receber as fotos do encontro para mostrar o resultado final. Espero que gostem.

Gabriela Ramos

2 comentários:

Klycia Fontenele disse...

Que ótimo relato, Gabi. E essa é a vida de jornalista: uma pauta a cada dia, muitas vezes, com temas e assuntos fora do nosso universo... Por isso, a importância da produção da pauta, do olhar e ouvidos atentos aos entrevistados e da disposição para ser sensível, sem ser passional...

Danilo Castro disse...

Eu adoro intervenções urbamnas. Ver esses trabalhos interferindo no meu dia-dia em espaços inusitados. Gosto muito do trabalho do Acidum.