Arranjar tempo para ir ao Titanzinho foi quase impossível. Mas o esforço valeu a pena. Conheci personagens e histórias interessantes e enriquecedoras.
Não conseguia encontrar nenhum tempo livre para encaixar uma visita à praia do Titanzinho. A princípio pensei em fazer do mesmo modo como se faz, em boa parte das vezes, na “vida real”. Isso significava mandar e-mail com as perguntas e solicitar fotos para ilustrar a matéria. Seria mais rápido, mais prático e mais cômodo. Minha fonte seria João Carlos Fera, fundador da Escolinha de Surf Beneficente do Titanzinho.
Cheguei a mandar e-mail com perguntas, telefonei, cobrei, quase implorei por respostas. Meu entrevistado não tivera tempo ainda para respondê-las. A espera me fez refletir. Não podia pressionar, não podia fazê-lo sentir-se como se estivesse contra a parede. Ao mesmo tempo, não dava mais para esperar. Foi quando vi que não havia outra maneira senão ir ao Titanzinho e coletar meu material.
Com tanta coisa para fazer, um transtorno a mais não era o que eu procurava. Seria um percurso demorado e solitário. Meus colegas de equipe já haviam explorado o local, anteriormente. Então decidi que tinha de ir.
Aproveitei um sábado de manhã que não trabalhei e liguei para Fera. A esposa dele, Débora, me contara mais uma vez que ele iria responder o e-mail assim que pudesse. Eu disse-lhe que não se tratava disso, mas que agora eu gostaria era de ir pessoalmente visitar Fera e ouvir dele os relatos sobre a história da escolinha e a tradição do surfe na praia do Titanzinho.
Débora me advertiu que ele estaria ocupado com a limpeza da praia, um das diversas iniciativas nobres que a escolinha desenvolve. Eu rebati dizendo que iria mesmo assim e ela garantiu-me que ele arranjaria um tempinho para conversar comigo.
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Rabisquei o endereço num papel e abri o Google Maps para tentar ao menos ter uma ideia de onde ficava o local. Relativamente ciente das ruas importantes que ficavam próximas do logradouro, abri o site da Etufor e procurei o ônibus mais adequado para chegar até lá.
Admito que fiquei apreensivo de chegar sozinho na área tão conhecida pelos índices de violência e tráfico de drogas. Mas algo me dizia que a experiência e a riqueza das histórias que eu encontraria ali fariam qualquer esforço valer a pena.
No ônibus, conheci uma garota que morava perto da escolinha. Ela me deu dicas sobre o local. Algumas até me assustaram um pouco. Ela me advertira de ir a um posto policial e pedir a escolta de um agente para que eu chegasse em segurança a meu destino. Eu agradeci as informações e perguntei a um transeunte pelo posto policial. Ele me disse que não estava funcionando, mas se ofereceu prontamente para me ajudar a encontrar quem eu procurava. Meu sentimento de temor passou, num instante.
Todos a quem dirigi a palavra no Titanzinho se ofereceram para ajudar de alguma forma. As pessoas que conheci eram simples, solidárias e trabalhadoras. Não vi gente vadiando nas ruas, nem me senti ameaçado por ninguém. Pelo contrário, senti-me confortável como se já pertencesse ao lugar.
Claro que se você for entrando pelas ruas e becos, sem ninguém conhecer você, nem saber o que você faz ali, pode ser perigoso, mas a senha para penetrar no Titanzinho era: “O Fera está me esperando para uma conversa, você pode me ajudar a encontrá-lo?” Bastava dizer isso para que me tratassem como um deles. Fera é uma figura conhecida, respeitada e conquistou a admiração das pessoas do Titanzinho.
Andar ao lado dele é o máximo. Todos paravam para cumprimentar, os mais novos corriam para tirar fotos com ele. Circulei com a câmera quase o percurso todo e não houve problemas. Havia turistas na praia, inclusive, e eles devem ter sentido o mesmo.
Após conversar com Fera, e com alguns moradores do lugar, voltei para casa fatigado. A praia acaba comigo. O vento me deixa nauseado e a luminosidade intensa me dá sonolência. Mas estava feliz. Consegui as peças para escrever minha matéria, e ouvi histórias interessantes. Vocês poderão conhecê-las no site da Impressões Digitais.
Felipe
Um comentário:
que massa! fiquei com vontade de ter ido também. :)
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